O título da matéria pode soar exagerado, até apelativo, mas não só faz sentido como pode ser concretizado nos próximos anos. E o motivo é o de praxe do futebol inglês: grana. Chelsea e Manchester City, que costumavam ficar bem atrás de seus rivais, em divisões inferiores ou sendo "figurantes" na Premier League na maioria das vezes, tornaram-se potências do futebol mundial instantaneamente com investimentos estrangeiros.
Roman Abramovich e Sheikh Mansour, respectivamente, mudaram radicalmente a trajetória dos Blues e Citizens para sempre. Mês passado foi anunciado oficialmente os investimentos do iraniano Farhad Moshiri no Everton FC, após a compra de 49% das ações do clube. Foram confirmados cerca de 150 milhões de libras, em torno de R$ 750 milhões, para contratações já na próxima temporada. Saiba como o time de Paul Mccartney e Sylvestre Stallone, multicampeão inglês nas décadas de 70 e 80, será uma das maiores potências do futebol a partir de 2016-2017.
1. Torcida
Os fãs do City e Chelsea vão chiar, mas o Everton, mesmo sem dinheiro (ainda), possui torcida bem mas atuante que os dois juntos. Já estive em Stamford Bridge e Etihad Stadium em dias de jogos, conversei com torcedores e passei vários dias em Londres e Manchester, por isso sei o que estou falando.
Fiquei impressionado quando estive em Londres e vi a real dimensão da torcida azul, que, pasmem, na cidade não tem muita diferença de rivais menores como Tottenham e West Ham, ficando muito distante do apelo popular do Arsenal, o Flamengo da capital inglesa. A nível internacional de comparação, o Chelsea pode até superar os citados, mas para os ingleses de Londres não.
E o motivo é o mesmo do City: tradição. Na Inglaterra é bem difícil alguém com mais de 15 anos "virar a casaca", apenas pelos títulos de outro clube. Então a torcida dentro dos estádios desses times é composta pelos velhos torcedores, que passam de pai para filho, e por turistas, que vão apenas para ver os jogadores do super time montado. Em Goodison Park é diferente. De todos os clubes, foi o estádio que vi menos turistas. É uma torcida absurdamente fiel, que lota todos os jogos, não importa a situação do clube.
Há um sentimento de perda muito grande nos Tofees, por não ganharem títulos importantes há vários anos (último foi a FA CUP de 95), perdendo o status de grande clube do país. Outro fator importante do Everton é o considerável número de torcedores espalhados pela Inglaterra e países vizinhos, como a Irlanda. Em quase todas as pesquisas aparece entre as cinco melhores torcidas inglesas.
2. Cidade
Três dias são o suficientes para conhecer todas as atrações da cidade de Liverpool. Calma e tranquila, a cidade respira música (terra dos Beatles e outros grandes artistas), cultura (museus a rodo) e futebol (Liverpool FC e Everton). Fora isso, não há muito mais o que fazer nesta cidade de 400 mil habitantes, banhada pelo rio Mersey. Isso contribui positivamente para o desempenho dos jogadores dentro de campo.
Diferente da sisuda Londres, que não para um segundo e tem várias "tentações" e distrações aos atletas, a cidade banhada pelo rio Mersey, a um Ferry Boat de distância de Dublin, possui naturalmente todas as condições para que o atletas se preocupem apenas em jogar futebol.
As pessoas são, na grande maioria das vezes, amáveis, bem diferente de outros locais do país, e a atmosfera é única. Sem dúvida um dos motivos para justificar como uma cidade do interior, distante mais de 350 km de Londres, conseguiu produzir dois dos maiores clubes do país.
3.Grana
Não serão apenas as 150 milhões de libras que farão a diferença para o Everton em 2016-2017. O acordo firmado com a TV (Sky Sports e BT) que detêm os direitos nacionais e internacionais, de 3 bilhões de libras a ser dividido pelos clubes, entrarão no pacote, fora diversos outros valores super inflacionados, que vão de patrocínio ao preço dos ingressos.
Calcula-se que o valor total para a próxima temporada supere o total de investimentos do clube nos últimos 5 anos! É muita grana, talvez até superior ao de Chelsea e City nas primeiras temporadas de Abramovich e Mansour.
4. Contratações
A torcida do Everton detesta com todas as forças o técnico Roberto Martinez, e eu também faço coro. Acho ele muito fraco, retranqueiro, e algumas vezes até medroso, sem coragem para tomar decisões difíceis quando o jogo pede por isso. Mesmo assim, tudo indica que ele será o comandante na próxima temporada. A parte boa de Martinez é seu "dedo" para contratações. Com o orçamento apertado do Everton ele fez milagres nos últimos três anos.
Funes Mori (River Plate) e Aaron Lennon (Tottenham) foram ótimas contratações este ano, que teve ainda Lukaku, dentre outros, em temporadas passadas. Martinez não tem muita história como treinador, é jovem(42 anos) e seus maiores feitos até aqui foram a conquista da terceira divisão com o Swansea (2007) e a FA Cup com o Wigan (2013). Nos dois canecos possuía equipes bem inferiores aos rivais, mas com seu aspecto motivacional, sua maior virtude, conseguiu ser campeão, com direito a vitória sobre o City em Wembley.
Acostumado a fazer pouco com muito, o treinador terá a maior prova de fogo da carreira. Como já declarou em entrevista, Martinez aprendeu com os rivais Manchester United e Liverpool o que não fazer com muita grana em mãos, e isso vale para a maioria dos clubes ingleses. De que adianta dinheiro se você não sabe aplicá-lo? A esperança em Goodison Park é que Roberto Martinez aplique bem o montante, e sobretudo que o treinador tenha coragem de peitar grandes estrelas em momentos decisivos, como para substituir algum jogador importante, o que raramente aconteceu.
5. Momento
Chegou a hora do Everton. Na primeira vez que fui a Goodison Park, em setembro do ano passado, simpatizei com o clube logo de cara. Fui para vários jogos desde então, de todos os tipos e em diferentes países, mas nada que se aproxime do encanto que senti na Old Lady. O estádio do século XIX mistura o antigo com o moderno de maneira apaixonante.
Quase todos os jogos têm bandas de música localizadas próximo à praça de alimentação, com famílias inteiras comparecendo, entre um fish em chips (peixe com batata) para as crianças e uma Pint (cerveja). Os últimos 20 anos não foram fáceis, mais tristezas que alegrias, porém eles sempre estão lá. Já naquela ocasião imaginei algum Sheik do Catar ou coisa parecida comprando o clube, e devolver para a torcida o time no lugar que merece, no topo, e foi com grata surpresa que recebi a notícia de Farhad Moshiri mês passado.
Esse é o momento exato para estes investimentos. O clube aprendeu com erros do passado, administrações falhas e contratações equivocadas. A melhoria do clube é visível em todos os setores, começando pela imprensa. O melhor material de clubes que vi na Inglaterra é dos Tofee's. Sem contar a rivalidade com o Liverpool. Os reds seguem com times medíocres e caros, e podem comer poeira ano que vem dos rivais do Parque Stanley. Depois de tantos anos, enfim o “time do povo” vai dar a forra. Só o tempo dirá se o Everton FC poderá ser melhor que City e Chelsea e, principalmente, superar dentro de campo seu maior rival.
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